Pular para o conteúdo principal

Extrema-direita espanhola articula internacional anticomunista que avança para América Latina. Por Mauricio Durá

Por motivos históricos próprios, diferentemente do resto da Europa, Espanha e Portugal vinham resistindo à entrada da extrema-direita em seus parlamentos. Mas, no último período, essa realidade mudou. Hoje, a extrema-direita já formou bancadas nos parlamentos dos dois países. 

 

No caso da Espanha, o partido VOX conta com 52 deputados, em um parlamento de 350, constituindo-se  como a terceira força política. 

 

Pesquisas eleitorais mais recentes sobre o pleito que ocorre este ano indicam um possível empate com o Partido Popular (direita tradicional), disputando com este o papel de líder da oposição ao atual governo socialista. 

 

O crescimento exponencial, em apenas cinco anos, projetou o VOX como uma referência entre os partidos da extrema-direita europeia e alimentou a volta aos tempos do Império Espanhol. 

 

Na esfera europeia, Santiago Abascal, presidente do VOX, vem tentando jogar um papel no objetivo de dotar este movimento de uma maior organização e articulação, em torno de um projeto comum para a Europa. 

 

Neste espaço, divide o protagonismo com figuras muito mais consolidadas, como é o caso dos primeiros-ministros Viktor Orbán, da Hungria, e Mateusz Morawiecki, da Polônia. 

 

E neste contexto, que o VOX organizou no dia 28 de janeiro a denominada Cumbre de Madrid, que reuniu a extrema-direita europeia. 

 

O evento viu suas expectativas, surgidas no encontro, limitadas pelos tambores da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Não é um bom momento para lembrar do amigo Putin. 

 

Foro de Madrid: uma internacional anticomunista para a América Latina 

 

Em paralelo a estes movimentos na Europa, o VOX promove uma internacional anticomunista na América Latina. O ponto de partida propagandístico foi a Carta de Madrid, elaborada em outubro de 2020, e assinada por mais de oito mil pessoas entre políticos, empresários, integristas (católicos e evangélicos), neocons e ultraliberais, populistas de direita e nostálgicos das ditaduras militares. 

 

Entre os integrantes desta iniciativa estão figuras amplamente conhecidas como Keiko Fujimori (Peru), Eduardo Bolsonaro (Brasil), José Antonio Kast (Chile) e Andrés Pastrana (Colômbia). Este último ocupa a presidência desta nova organização internacional, que tem por nome Foro de Madrid, numa referência direta e de contraposição ao Foro de São Paulo, tal e como se indica na Carta de Madrid: 

 

“Uma parte da região está sequestrada por regimes totalitários de inspiração comunista, apoiados pelo narcotráfico e outros países. Todos eles, sob o guarda-chuva do regime cubano e iniciativas como o Foro de São Paulo e o Grupo de Puebla, que se infiltram nos centros de poder para impor sua agenda ideológica. A ameaça não se circunscreve exclusivamente aos países que sofrem o jugo totalitário. O projeto ideológico e criminoso, que está subjugando as liberdades e os direitos das nações, tem como objetivo introduzir-se em outros países e continentes, com a finalidade de desestabilizar as democracias liberais e o Estado de Direito”.

Nas palavras de Abascal, o Foro de Madrid é “uma estrutura permanente e com um plano de ação” que, tem como objetivo “ser alternativa ao Foro de São Paulo e ao Grupo de Puebla”, em referência à esquerda e à social-democracia na região. 

 

Ao longo destes dois anos os dirigentes do VOX percorreram toda a região para promover esta iniciativa. A figura mais visível tem sido o eurodeputado Hermann Tertsch, que faz uso da infraestrutura de sua  condição de eurodeputado e de terceiro vice-presidente da delegação europeia na Assembleia Parlamentar Euro-Latinoamericana, a Eurolat, que reúne deputados do Parlamento Europeu e de 23 países da América Latina. 

 

Além disso, o grupo ultraconservador ECR (Reformistas e Conservadores Europeus) montou seu próprio “Eurolat”, do qual Tertsch é o presidente. Outra figura importante tem sido o deputado Coello Portugal, vinculado a grupos integristas católicos. Ele é o porta-voz do VOX na Comissão de Assuntos Exteriores do Congresso Nacional da Espanha. 

 

Nestes périplos, em janeiro de 2020, estiveram na Bolívia, com ministros da golpista Jeanine Añez;  posteriormente na posse de Guillermo Lasso no Equador, e na Colômbia foram recebidos pelo ex-presidente Álvaro Uribe. No México foi o próprio Abascal quem apresentou no Senado a Carta de Madrid, aproveitando o fato de ter sido convidado para um ato anti-abortista. 

 

Recentemente, nos dias 18 e 19 de fevereiro, e no meio da pré-campanha presidencial na Colômbia, realizou-se em Bogotá  o Primeiro Encontro Regional do Foro de Madrid. Num evento catalogado pelos organizadores como “histórico”,  participaram figuras destacadas como o ex-presidente de Colômbia, Álvaro Uribe; o ex vice-presidente do Peru, Francisco Tudela; a coordenadora de Vente Venezuela, María Corina Machado; o ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo; o escritor venezuelano Alejandro Peña Esclusa; deputados peruanos, de quatro partidos diferentes, Rosangella Barbarán, Wilson Soto, Diana Gonzáles Delgado e Alejandro Muñante, e as senadoras da Colômbia pelo Centro Democrático, María Fernanda Cabal e Paloma Valencia. 

 

No espírito da Carta de Madrid o encontro finalizou com a leitura da Declaração de Bogotá, que apresenta, entre outras, as seguintes ideias:

Nossa profunda condenação à agressão do terrorismo urbano, perpetrada pelas turbas do ódio, da intolerância e da violência comunista, seguidoras de Gustavo Petro;

Denunciar que as máfias do narcotráfico e dos grupos terroristas pretendem apoderar–se da Colômbia nas próximas eleições, com o apoio do regime venezuelano, buscando obter pelos votos o que não conseguiram depois de 60 anos de violência comunista;

Que existem sérios riscos às democracias da região, através dos projetos que pretendem entregar a Colômbia às máfias do narcotráfico e instaurar o comunismo no Brasil, nas próximas eleições presidenciais;

Que o comunismo vem-se organizando em espaços como o Foro de São Paulo e, mais recentemente, através do Grupo de Puebla, depois de minar durante décadas as democracias liberais da região;

Censurar a campanha internacional de desprestígio que se promove contra o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, campanha que busca interferir nas próximas eleições, para entregar o poder ao Foro de São Paulo e retornar ao modelo de corrupção que representa Lula da Silva, que havia sido superado; Respaldar a OEA e, particularmente, a seu secretário geral, Luis Almagro, frente às pretensões do Grupo de Puebla, de dissolver essa organização, para substituí-la pela Celac;

Impulsionar projetos que sirvam para difundir e consolidar a cultura judaico-cristã ocidental em ambos os lados do Atlântico, para combater a guerra cultural marxista, que busca demolir os cimentos da nossa civilização.

 

 

Maurício Durá é sociólogo formado pela USP (Universidade de São Paulo), consultor de Políticas Públicas para a América Latina e correspondente do Holofote na Espanha. Membro do Núcleo do PT Barcelona. 

 

Link de origem: https://www.holofotenoticias.com.br/mundo/extrema-direita-espanhola-articula-internacional-anticomunista-que-avanca-para-america-latina


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Caros Amigos

De forma breve, contextualizamos nossa história de mobilização, organização e ação. Somos um coletivo diverso e de muitas frentes, vinculado ao Diretório Nacional do PT, via Secretaria de Relações Internacionais. Nossa trajetória de luta vai desde o Impeachment da presidenta Dilma, em 2016, passando pela Campanha Lula Livre, e pelo imperativo do Fora Bolsonaro.   Nosso primeiro coletivo de luta, Amig@s da Democracia Barcelona, data de março de 2016 e agregou pessoas de várias tendências de esquerda. A partir daí, formou-se um ‘subgrupo’, Comitê pela Anulação do Impeachment Barcelona. Em continuidade ao assalto à democracia e aos direitos sociais brasileiros, foi recrudescendo o golpe jurídico, político e midiático, que culminou na prisão e no impedimento da candidatura de Lula e na eleição atípica de Bolsonaro, em 2018. Frente às ameaças e ataques ao nosso povo, ao nosso país e as nossas instituições democráticas, mudamos o foco e o nome do grupo para Comitê Lula Livre Barcelona, segui

A força daS culturaS brasileiraS no exterior - por Flávio Carvalho

  A força daS culturaS brasileiraS no exterior contra o Dragão da Maldade De Flávio Carvalho, para o site da FIBRA. @1flaviocarvalho, sociólogo e escritor. @quixotemacunaima, no Facebook. Barcelona, agosto de 2023. “Se oriente, rapaz, pela constatação de que a aranha vive do que tece. Vê se não se esquece. Pela simples razão de que tudo merece Consideração… Vê se compreende. Pela simples razão de que tudo depende. De Determinação. Determine, rapaz..” (Oriente, Gilberto Gil). A retomada das políticas públicas com intensa participação popular, neste novo governo, passa pela realização de diversas conferências de promoção de políticas públicas. Tal como o partido que tem Lula como Presidente de Honra, o PT, começou a fazer desde que assumiu as primeiras prefeituras. E não foi por acaso que estas mesmas conferências enfrentaram o alvo letal das primeiras canetadas nazifascistas, logo que a familícia assumiu, extinguindo-as, todas as conferências. Bem como (mal) fez, o inelegível, com todo

Parabéns por um ano do Núcleo do PT Barcelona!!! Por Anna Ly

Assisti ao programa de comemoração dos 43 anos do PT e primeiro aniversário do Núcleo de Barcelona e achei muito bom mesmo! Parabéns a todos que estiveram no programa e aos que realizaram esse excelente trabalho no Núcleo desde os passos preparativos e os que se seguiram depois da sua fundação!  Eu gostaria de contribuir com a narrativa da história do Núcleo com alguns dados e uma perspectiva de quem acompanhou todo o processo.  Primeiro, só a título de informação mesmo, queria dizer que há muito tempo atrás, não sei exatamente o ano, houve outro Núcleo do PT em Barcelona. Em relação ao nosso, na época da fundação, éramos 18 filiados oficialmente registrados na lista da SRI. Além desses filiados, havia um ou outro que não constava na lista,  ou que estava em processo de filiação, e simpatizantes que participavam no grupo de whatsapp. De acordo com o regulamento, na assembleia de fundação do Núcleo, tínhamos que ter pelo menos 9, metade do total de filiados, e conseguimos realizá-la com